Segundo Heráclito "ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio." Analisar a forma de fluir e seguir do rio é perceber que ele é constante, ainda que brote da mesma nascente, ele é sempre novo por seguir em frente e suas primeiras águas terem saído mundo afora abrindo caminhos e desviando rotas. É claro que às vezes outros interferem no seu percurso natural achando que beneficiarão ou obterão mais lucro ou que podem reter um rio apenas para si, mas ele flui, seja em forma líquida ou quando se transforma em vapor de água, já mudando então o seu estado original. As pessoas, a vida e os rios são parecidos no aspecto da mudança e algumas por sua fluidez ou adaptação às dificuldades impostas pelo caminho que trilharam, ninguém escapa da mudança, do processo de se tornar algo que já não era mais, de ser novo como um rio.
Poderíamos dizer que a água possui até um aspecto mais inteligente muitas vezes que o próprio ser humano, já que quando ela encontra uma rocha ou um caminho difícil de trilhar ela não retira o obstáculo, mas busca uma forma de contorná-lo, para continuar o seu caminho e às vezes, sem querer ou sem pretensão o esculpi ou modifica por fora. Coisa difícil é mudar uma rocha. O trabalho lento do rio e sua força constante encontra sempre um jeito, um outro caminho para poder fluir e assim a água vai mudando o caminho por onde passa, se adaptando, mesmo que a rocha não mude de lugar, é para seguir no seu caminho de descoberta, transformar o seu estado de existir que o rio flui.
Há pessoas que colocam os pés nas águas e não percebem que o rio mudou, que aquela água não é a mesma, como há pessoas que não percebem que mudaram, talvez tenha sido por uma rocha encontrada no meio do caminho, um obstáculo que precisou driblar para continuar a sua fluidez e naturalidade sem ficar presa ou parada num estado apenas. Rios, vida e pessoas...
Costumamos dar nomes aos rios, mas muitas vezes esquecemos as funções que ele possui ou de que composição ele é feito, porém independente disso, sua função segue, ele independe de nossa opinião sobre o fato de ser como ele é. Um rio refresca em dias de calor, faz surgir flores, árvores ao seu redor, mas não é o rio em si que produz isso, contudo as propriedades nele que fazem com que ele embeleze o percurso por onde passa, exalando vida e vida nova. Há pessoas que bebem das águas dos rios, há ainda quem se banhe, mas muitos apenas molham seus pés. Há aqueles que reclamam do rio por sua água estar gelada, por terem que molhar os pés ou um pouco da roupa, são os arredios à travessia, mas há os que agradecem por que a água estava fresca. A diferença muitas vezes não está na composição do rio, mas no externo que nos faz sentir-nos incomodados ou não com a temperatura, os movimentos ou com a força das águas em dias de chuva. O fato é que um rio cheio transborda.
Há rios que precisam de barcos para serem navegados e coletes ou um guia, há rios que podem ser seguidos à beirada sem riscos. Há rios que podemos passar caminhando sem perigo algum por que não são tão fundos ou caudalosos. Há águas de rios que não podemos beber, mesmo estando com sede, mas o fato é que a vida e as pessoas são como rios, nunca são as mesmas de ontem, nem serão. Quando colocamos um dos pés, o segundo já está pisando em outra água.
Precisamos apenas relembrar que os problemas e obstáculos que podem mudar o percurso ou a forma que o rio encontra para fluir em paz não muda não a sua essência. A composição é simples e a natureza sempre contribui nesse processo de evaporação, no processo hídrico que gera renovação, ás vezes precisamos como a água nos precipitar para sermos renovados e entendermos que as pedras não são nossas, as nuvens não são nossas, a paisagem que vimos também não, mas que os processos pelos quais passamos mudaram o nosso caminho e o de outros que estavam ali e como os rios podemos fluir.
Alguns se tornam águas de represas, outros poços profundos, uns águas paradas até evaporarem, outros fluem, num novo caminhar, como a vida e a vida segue, assim como um rio.