domingo, 21 de outubro de 2018

Sobre sentir



No fundo, no fundo ninguém sabe
das nossas dores ou alegrias verdadeiras,
algumas pessoas imaginam,
outras nem sentem,
outras acham que só elas as sentem,
mas é só presunção egoísta do ego ferido
Talvez doa "minha vontade não realizada."
Mas e em você, aonde dói?
Não, você não entendeu, aonde dói mais?

É fácil falar de empatia quando não é conosco a questão em si.
E quando não precisamos usá-la para manter as aparências de sermos "bonzinhos",
Fingir amor, demonstrar interesse ou até preocupação
Aceitação talvez, talvez amor, talvez...
Aceitar não quer dizer amar e vice e versa, ou seria?
Que confusão que anda o ágape, o eros, o filéo e até o "psiqué"
Ah, e com acento dúbio para poder na língua,
pelo menos na língua, se entender.

No fundo, no fundo nem sempre nos importamos ou nos colocamos no lugar do outro.
O choro dói mais que o silêncio?
Vítimas? Todos somos em alguns momentos,
mas nem sempre a culpa é da mulher que está voltando atordoada para casa, 
mas o louco é louco e à ele não atribuirão a culpa, 
o amigo é o amigo, dele também não é a culpa por negar socorro ou oferecer apenas os seus desejos como oferta de refúgio.
E o barqueiro?
O barqueiro? "O que que o barqueiro tem haver com isso?", "pobre coitado, fazer uma travessia gratuita para uma mulher atordoada e perdida na solidão da noite, esquecida talvez justamente por ser quem é?"
E sozinha ela seguiu.

O que vale mais, se é que vale... : uma dor sentida e gritada aos quatro ventos?
Ou uma dor silenciada pelo tempo que insiste em não partir?
Deixar de ser ou existir? Dói mais quando se sente e não se cura, dizem.
Talvez eu sinta mais do que diga, ou é apenas falta de mim mesmo.

E nesse medo de me perder, teria medo de matar, sofrer ou ferir, 
preferi calar e sentir, não consentir, sentir.
mas já morri uma vez... morrer de novo talvez não faça a diferença.
E mesmo morto neste corpo inerte, tenho que reconhecer que sorri
E foi mais de uma vez.

Eu Sen-ti.

(Emílio Mascarenhas)