sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Espelho, espelho seu...

   A sua aparência nunca dirá quem você é de verdade, mas seus atos revelarão o que você carrega dentro de você. Algumas pessoas pensam ser melhores do que outras, por se acharem mais belas, exuberantes ou por acharem que são merecedoras de admiração profunda ou respeito, pela sua simples "aparência" quanto o que devia ser levado em consideração deveria ser unicamente o seu interior.
   Nunca me vi como uma pessoa bonita, as pessoas até me diziam mas eu não achava isso, coisa que não sei se ainda me dei conta mas há pouco tempo fui ver uma foto de 12 anos atrás e eu disse para mim mesmo: "nossa, como você era bonito", só que eu não enxergava, acho que o meu espelho estava com defeitos e eu devo agradecer por nunca ter me achado o cara, o perfeito, o melhor do que...bendito espelho que fazia com que eu não me vangloriasse da beleza que possuía...(ainda dizem que sou bonito, às vezes até acredito...outras não, depende do espelho...(risos). Mas o mundo moderno entrou num conceito de beleza externa e extrema que não só apenas acreditam naquilo que veem mas também naquilo que seus olhos querem enxergar o resultado? Pessoas fúteis, vazias que fazem do corpo a única forma de mostrar algo "belo"ou perfeito ao mundo. Não, beleza não é pecado, o belo agrada mas é o que sai da boca que se eterniza.
   A beleza é tão contraditória...diz-se que a beleza está no olhar de quem vê, eu complementaria dizendo que a ausência de beleza está no olhar de quem não se vê realmente como é, no sentido de não enxergar os seus próprios defeitos. Não, não, não estou aqui para julgá-los, tenho espelhos, sim no plural. Eu diria que todos temos espelhos, belezas e defeitos contudo há algo que me incomoda de verdade: é a falta de educação, é o egocentrismo, é a pseudo autossuficiência que se perde num gesto até impensado mas que se revela pelas palavras vazias de compreenssão de quem não se vê.
   As pessoas usam óculos e não enxergam,  conversam mas não se entendem, utilizam os meios de comunicação mas não sabem se comunicar, se dizem éticos, criam perfis, vivem estilos de vida pré-definidos como os melhores ou mais felizes, porém não são aquilo que demonstram nas fotos sempre amistosas e sorridentes, há dentro do espelho uma escuridão que não percebemos e é aí que paro e lembro da feiura, sim, a feiura deveria agradar mais do que a beleza, eu diria que uma pessoa deveria gostar de mim não pela beleza que ela vê na minha aparência física, devo ter alguns atributos, até admito, mas ninguém mostra como é feio por dentro ou se mostra não consegue se ver assim. Parece que é mais interessante camuflar, disfarçar, será que estou errado em não gostar de espelhos? Talvez eu não goste tanto de espelhos por que eles só dizem o que eu sou, ou, como eu estou por fora. E por dentro? Como me avalio? Como será que me vejo? Será que tenho características e qualidades que mereçam a admiração de alguém? Será que respeito o outro mesmo sendo ele diferente de mim em algum aspecto? Pior e se ele for "igual"em algum momento, será que consigo me ver nele também? Acho que talvez o chamado "espelho-outro" incomode.
   A vida é um processo duro de aprendizagem e de saber lidar com pessoas diferentes e diversas, e, são vários espelhos lustrados ao longo de décadas ou ilustrados ao longo de épocas. A beleza seria mais aceitável de verdade, se "eu" reconhecesse que não sou tão feio por fora, mas que também não sou tão bonito por dentro. Não são as minhas habilidades que me fazem melhor do que alguém, a língua que domino fluentemente ou os talentos que eu possua, mas como eu trato e vejo as pessoas, mesmo acreditando possuir atributos que a sociedade possa se orgulhar aparentemente.
   Não é o outro que vai dizer quem sou, como devo ser ou como deveria agir, espelho não fala, mostra...
... eu mesmo é que deveria refletir sobre minhas imagens construídas, meus espelhos lustrados e ilustrados sobre quem realmente eu sou, antes de sair por aí acreditando que o meu espelho tem a melhor imagem. Há um conto interessante, reescrito por Ricardo Azevedo que se intitula assim: "O caso do espelho". Será que o meu texto poderia se intitular "O caso de quem não se vê"? ou "Como você se vê?" talvez... "Você se vê em mim?"
A verdade é que às vezes temos que ser espelho(referência) noutros momentos espelho aparência(daqueles com efeitos) e talvez não vejamos que somos apenas uma imagem distorcida do que somos de verdade e não são os óculos que farão você se enxergar. O problema está no espelho? O conhecimento vai além do que se vê.