quinta-feira, 6 de abril de 2017

Ensaio sobre a cegueira - I

Ensaio sobre a cegueira - Parte I

O enfrentamento de mim
(Emílio Mascarenhas)


Quando alguém escolhe te dizer a verdade, mas estabelece uma relação de neutralidade e respeito essa pessoa está sendo imparcial e verdadeira, muito mais porque ela não precisa de você ou de nada que você possa oferecer a ela, há uma análise neutra de determinada situação, mas quando eu ponho o que eu gostaria, ou julgo por favoritismo ou apenas julgando sem interesse em conhecer seus erros, não estou sendo imparcial.
Um grande erro de nós humanos é acharmos que somos melhores do que os outros ou que os outros são melhores apenas porque são "nossos" ou "do nosso meio"(vínculo afetivo), mas admiro quando percebo que tenho amigos verdadeiros quando essa pessoa não toma partido a favor de mim mas analisa a situação como um todo e reconhece os meus erros também e me sinaliza isso. "Não, não passe a mão pela minha cabeça, afinal você não precisa de nada de mim", atitude de maturidade e coerência.
Querer o meu bem só porque eu sou seu irmão, primo, chefe, porque eu posso precisar de você não é sinal de que me importo ou me preocupe com você como um todo, mas talvez com o que eu posso ganhar ou me beneficiar tendo você do meu lado. E se eu não tiver nada a te oferecer? Eu não tenho nada a te oferecer mas tentarei ser verdadeiro sempre que puder, talvez devesse ser a frase mais ouvida pelos que são mais humanos, mas o sistema nos corrompe.
Eu preferiria um sorvete, após uma longa caminhada mas em uma companhia sincera, alegre, divertida e desprovida de preconceitos, do que uma viagem internacional com alguém que quer apenas "viajar comigo" Prefiro viajar no sabor do sorvete, a experimentar a necessidade do que lhe proporciono.
Não posso julgar o outro pelos meus erros, unicamente pela minha história, mas somos tendenciosos a fazer isso, achamos que nossas verdades devem ser vividas e experimentadas por outros, pois é a nossa verdade, porém quando eu entro em contato com o universo e descentralizo minha mente, profissão e preferências eu sou capaz de julgar a mim mesmo e perceber o que é que em mim ainda está errado e o que que eu preciso mudar, não me ver é ensaiar-me sobre a cegueira, não julgar é não me por em julgamento, não se interessar também é uma forma de não se preocupar.
Admiro quem se preocupa, quem é genuíno, constante e desinteressado no que o outro possa oferecer, nesse ponto o doar de si, demonstra muito mais abnegação do eu, significa ser para o outro aquilo que ele precisa ser, saber ouvir, sem interesse pessoal de receber algo em troca.
O pensamento de não poder dizer certas coisas por que posso te magoar ou causar um enfrentamento significa que eu não estou sendo verdadeiro comigo mesmo ou com o que eu penso. Mas poucas pessoas sabem dizer o que pensam e terão coragem de fazê-lo de forma imparcial. Poucas pessoas conseguirão abrir mão de si e serem honestas consigo mesmas.
Franqueza é diferente de sinceridade, mas sinceridade é um assunto pra outro dia...
Aos corajosos e imparciais, os meus parabéns e a minha gratidão.