Eu já não posso fazer muita coisa,
Calar, olhar, pensar, sem nada dizer.
Eu já não posso dizer muita coisa
Falar, enxergar, sem poder perceber.
Eu já não posso ver muita coisa
Perceber de fato e sempre emudecer.
E se eu não posso mais falar,
Como viver, dizer, saber, entender?
Eu já não posso compreender,
Vai além da minha imaginação...
Eu apenas posso escrever
Como faço, no momento, nessa situação...
Coisas que talvez eu nem queira fazer
Sobre as possibilidades da minha razão.
E se eu não precisar saber, já que você não abre mão?
Eu nem preciso fazer se você não fizer questão.
Eu nem preciso escrever, falar, dizer, para mudar essa situação.
Não depende só do meu querer mas muito mais da sua decisão.
[...]
Pergunto-me, então: "para onde vou nessa navegação?"
Ó, vento do Norte, sopre na minha direção!
Vou para onde os outros ventos sopram?
Ou conduzo as velas da embarcação?
Lanço uma âncora
Ou vou rumo aquela ilha chamada solidão?
Se eu fosse marinheiro, ah, se eu fosse marinheiro,
mas eu nem sei nadar e ainda uso estes coletes...
Ah, e se eu me esqueci de dizer alguma coisa, vou aproveitar para gritar:
"Tenho enjoos do mar, tenho enjoos do mar..."
(Emílio Mascarenhas)