Identidade surda
Por Emílio Mascarenhas
“Quando eu aceito a língua de outra pessoa, eu aceitei a pessoa...
Quando eu rejeito a língua,
eu rejeito a pessoa porque a língua é parte de nós mesmos...
Quando eu aceito a língua de Sinais, eu aceito o surdo,
e é importante ter sempre em mente que o surdo tem o direito de ser surdo.
Nós não devemos mudá-los, ensiná-los, ajudá-los,
mas temos que permitir-lhes ser surdo”
Anônimo
O Brasil é constituído por uma diversidade cultural muito grande e cada grupo ou camada social possui sua própria identidade, nós mesmos ainda que não estejamos inseridos de forma direta em determinada comunidade devemos conhecer essa variedade para melhor compreensão do outro como indivíduo, como ser humano, pois fazemos parte de um todo, neste grande universo que é a vida do ser humano. Muitas vezes nós nos identificamos com determinadas pessoas ou grupos mesmo que de forma inconsciente. Os surdos, não só no Brasil, também necessitam sentirem-se inseridos na sociedade e serem reconhecidos como indivíduos dotados de conhecimento e cultura. Quando pessoas de uma mesma cultura convivem juntas, elas desenvolvem uma linguagem própria, mas devido ao pré-conceito e ao fato de as pessoas estarem acostumadas a relacionar língua com a fala, a inserção do surdo na sociedade tem sido difícil e muitas vezes essa classe de indivíduos é considerada com inferior ou como pessoas sem cultura sendo muitas vezes excluídas da sociedade e perdendo muitas vezes a identidade. Identidade não se aprende, isso é inato ao processo de formação do ser.
A identidade não resulta de processos de aprendizagem e sim da inserção no jogo entre a língua e a história que nos leva, a nos constituirmos como sujeitos, formando então a sociedade. Cultura e identidade, por tanto, estão intrinsecamente ligados. Se cada pessoa possui uma realidade de vida diferente, uma forma de ser ou de pensar que pode divergir de uma outra, mas, se procuram estabelecer vínculos com algo que se identificam, quando falarmos de inserção social no que se refere as pessoas com surdez notaremos um grande problema pois, o meio de comunicação considerada válida, a língua, encontrará um bloqueio no contato entre ouvintes e surdos isso porque por muito tempo os surdos foram estigmatizados, eram considerados como inferiores ou indignos de comunicação já que não possuíam a língua vigente em seu país resultando na falta de comunicação entre as pessoas. A linguagem oral é uma grande diferença que distingue os surdos dos ouvintes, gerando am alguns casos pré-conceitos e discriminações mas ser diferente quer seja nas diferenças de nacionalidade, cor, perfil, religião ou língua não deveria ser motivo de exclusão. Todo comportamento humano está subordinado à cultura que os constrói, surge então a pergunta: Como inserir pessoas que não falam, numa sociedade em que a maioria é ouvinte e aonde não há interesse ou oportunidades de facilitar a comunicação com essa classe de pessoas? Considerar a Libras como uma Língua válida e como forma de comunicação, não de mímicas, já seria um grande passo e isso está acima de uma lei estabelecida pelo governo em um decreto jurídico-parlamentar, isso deve ser visto na prática, já que a língua é, neste sentido, um instrumento que serve à linguagem para criar sentido, e para ser um processo permanente de interação social, levando em conta a comunidade surda e os indivíduos existentes nela.
No que se refere à surdez, identidade seria a capacidade ou direito de ser surdo, o que poderia ser explicado da seguinte maneira: ser surdo não é ser deficiente e sim diferente. Segundo PERLIN (1998: 56) ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. Os surdos não devem ser considerados de menor valor social, eles necessitam serem inseridos na sociedade e reconhecidos como usuários de uma língua que tem significado, ou seja, indivíduos com identidade dentro de sua própria cultura. É claro que isso não é fácil já que, muitas vezes, os surdos são “colonizados” pelos ouvintes de certa forma quando são submetidos à cultura social vigente, quer seja pela prática da tradição oralista ou o etnocentrismo que tem a tendência de postular a cultura dominante como padrão para as demais demonstrando que os seus valores e a sua cultura são superiores ou mais esmerados que a dos surdos. Precisamos nos aproximar da cultura e da comunidade surda, para podermos compreender um pouco mais sobre esse mundo multi-cultural em que vivemos e a fim de que ajudemos a nós mesmos na nossa própria construção como sujeitos em nossas próprias identidades culturais. A educação pode ser uma importante ferramenta para isso.
Referências: